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Proclamação — 5 de outubro de 2025 Nasce a República dos Desafectos, S.A.
Há quem diga que o desinteresse é um problema.
Nós achamos que é uma forma de resistência — quando a saturação é tanta que o entusiasmo se torna impossível.
Nesta República, não há bandeiras, mas há consciência.
Não há slogans, mas há ironia.
E, sobretudo, há vontade de pensar — mesmo quando pensar não rende likes, votos ou avenças.
A República dos Desafectos, S.A. nasce para quem se recusa a aplaudir por reflexo.
Para quem prefere a dúvida ao fanatismo, o humor à histeria e a lucidez à conveniência.
Hoje, 5 de outubro, proclamamos uma nova forma de república — sem discursos de varanda nem medalhas de ocasião.
Apenas o direito de olhar o país de frente e dizer, com serenidade:
“Somos desafectos, mas ainda nos importamos.”
Leia também: O Governo Precisa de Autarcas (porque o povo já não conta)
🧩 Primeiro Mito Urbano: O Governo Precisa de Autarcas (porque o povo já não conta)
5 de outubro de 2025
Nota contextual
As declarações que inspiram este texto foram proferidas por Luís Montenegro durante um jantar-comício em Mafra, em apoio a um candidato autárquico do PSD.
Nessa ocasião, o primeiro-ministro afirmou que, para prosseguir com a concretização das prometidas baixas no IRS, o Governo precisa de apoio nas autarquias.
À primeira vista, poderia soar apenas como mais uma frase de campanha.
Mas, à luz da arquitetura democrática portuguesa, a afirmação carrega um significado mais denso: inverte a lógica da descentralização, transformando os autarcas — que deveriam representar as populações junto do poder central — em extensões locais da estratégia governamental.
E é precisamente nesse ponto, onde o poder de proximidade se afasta das pessoas, que nasce este Mito Urbano.
O texto
Diz o primeiro-ministro que precisa de autarcas do PSD para baixar o IRS.
Curioso: durante décadas disseram-nos que eram as populações que precisavam dos autarcas — como representantes de proximidade, voz das freguesias, escudo contra o centralismo.
Agora, ao que parece, a pirâmide virou-se ao contrário: é o Governo que precisa deles.
A frase, aparentemente inócua, revela mais do que parece.
Mostra um Estado que continua a pensar em cascata: de cima para baixo, como se a democracia fosse um organigrama e não uma teia de relações humanas.
O poder central fala, os autarcas obedecem, e o povo… assiste.
O discurso de Montenegro é, no fundo, uma tentativa de nacionalizar as autárquicas — transformar cada câmara municipal num mini referendo à sua governação.
Em vez de se discutir o saneamento básico, o transporte local ou a habitação acessível, discute-se o IRS nacional.
E assim, a política de proximidade torna-se palco de fidelidade partidária.
Mas o mais irónico é isto: ao dizer que precisa dos autarcas, o Governo confessa a sua própria fragilidade.
Porque um poder verdadeiramente forte não pede ecos — confia na coerência das suas ações.
E um país verdadeiramente descentralizado não precisa que os municípios sirvam de sucursal do Terreiro do Paço.
No fim, fica a sensação de que o único que continua esquecido nesta equação é o cidadão comum — aquele que paga o IRS, mas raramente vê retorno.
E é dele, ironicamente, que todos continuam a precisar — quando chega a hora do voto.
✒️ Sobre
Entre a lucidez e o sarcasmo, deixo palavras que resistem à anestesia.
Escrita incómoda para quem ainda não desistiu de pensar — de um desafecto incógnito que tenta salvar a esperança antes que morra.
— República dos Desafectos, S.A.
Fundada a 5 de outubro de 2025 — uma república livre de ruído e cheia de contradições humanas.